Livro
                     PROVAI E VEDE
                                  COMO O
                     SENHOR É BOM!
 
                                                                     LÓLA PRATA
                                                                        1a. edição  
 
 
     AJUDA

Com o avançar do crepúsculo, as saudades começaram a crescer demais. A mente ia perdendo o controle das emoções e o pai inconsolável tentava, de algum jeito, minimizar a disparada dos batimentos cardíacos. Um calor insuportável apossou-se de seu corpo. Teve medo. Medo da subida de pressão arterial, tão perigosa, causadora de infarto ou derrame... Andava de um lado para o outro, atravessando a sala, entrando e saindo da cozinha, ia para a janela, voltava à porta, jogava-se na cama, levantava-se, até que, com um grito abafado, liberou as lágrimas. E elas vieram, copiosas, lavando o rosto paterno. Não trouxeram alívio e sim, mais calor, mais disritmia, mais medo. Pranteava a filhinha morta. Lamentava-se em altos brados, ora com tristeza, ora com raiva. Era o fim de uma sexta-feira, volta do trabalho, com a perspectiva de fim de semana sem a garotinha. No decorrer dos afazeres profissionais, ocupando-se com estafante serviço, conseguia sublimar o sentimento cruel. Ao se avizinhar a folga, a saudade vinha avassaladora. Não fora mais ao campo de aviação, onde o curso de piloto se aproximava do término, quando receberia a paixão de toda uma vida: o brevê. Desistira, porém. Não era mais capaz de voar, de se dar prazer. O sofrimento impedia qualquer ação. Em desespero, ele clamou por Deus. Implorou por ajuda. Clamava do fundo do abismo, como o salmista. E continuou a andança, tropeçou no tapete, recuperou o equilíbrio, como ébrio raivoso. Chegou perto da estante repleta de livros sobre variados assuntos. Sem perceber conscientemente seu gesto, escolheu um livro, à revelia. Abriu-o, sem ver nada, pois os olhos se fizeram cegos por tantas lágrimas. Um pedaço de papel-cartão caiu dentre as páginas. Pegou-o do chão e viu um bilhete em cartolina alaranjada, escrito pela filha com letrinhas trêmulas de quem era recém-alfabetizada.
Chorou mais forte ainda. Dessa vez, no entanto, de surpresa, de gratidão, de consolo.
Pouco a pouco, recuperou-se e alçou voo para a conformidade.