
Baú destrancado (2018)

Prefácio
Leitor,
imagine um baú antigo, como uma arca de tampa móvel, onde o tempo deixou suas marcas. Seu espaço interior guarda as mais belas histórias, desde as amplas que ocupam a parte central e desejam se destacar diante das outras, até as mais delicadas, que se escondem nos cantos e frestas desse espaço pequeno e infinito.
Foi com muita surpresa e emoção que abri este baú. Surpresa pela permissão e confiança atribuídas e emoção pela riqueza que se apresentava linha a linha. Baús são como espaços íntimos, relicários de vida e quando esses espaços são adentrados, nada é conhecido. Um novo mundo se abre e com ele milhares de novas imagens. Todos esses espaços internos guardam os sonhos da alma humana, por isso, como diz o ditado “quem enterra um tesouro enterra-se com ele.”
Tive o prazer de conhecer Lóla durante as atividades de resgate de memórias coordenada por mim em uma instituição para idosos. Ela, visitante amorosa, sempre acompanhada de Miguel, nos presenteava com sua disposição e interação singular. Compartilhamos histórias, nos unimos diante de um sonho e abrimos caminho para novas aventuras. Sigo pensando, cada vez mais, “o vínculo é que norteia a busca”.
O livro que hora apresento nasce do universo rico e criativo de uma autora habilidosa diante de suas experiências, emoções e principalmente de seus sentimentos e afetos. Onde o cotidiano é o cenário privilegiado sobre o qual se movimenta, capturando o que há de mais significativo nos acontecimentos que dão substância à vida. Tendo em vista todo seu conhecimento e experiência, a tarefa autobiográfica pode parecer um percurso simples, mas olhar para a própria trajetória é um exercício de buscar dirigir-se a si mesma com plenitude e totalidade, sendo este um dos maiores desafios do homem diante de sua incompletude e finitude.
Tal processo de desenvolvimento nos leva a diversos aspectos conflitantes, sendo fundamental trazer à consciência conteúdos que se encontravam escondidos, no fundo do baú, completando-os, integrando-os, nesse movimento que nos permite ressignificar. A ressignificação é definida como uma constante busca de novos sentidos para a vida ou aspectos dela, tornando-a reconfortante. Por meio dela também encontramos caminhos de expressar e nomear aquilo que antes era impossível de dizer.
Todas essas experiências visíveis na obra da autora nos conduzem a um universo singular, construído e reconstruído em suas palavras, mesmo diante de momentos em que se afasta, se embarga, dando vida ao desejo de presença. E a mariposa que aparentemente se descontrola nas escolhas, demonstra imensa coragem, força e pureza no coração ao seguir a luz.
Tatiane Gutierrez
Graduada em artes plásticas, especialista em Cenografia.
Pós-graduada em Arte Educação e Arteterapia
Graduanda em Psicologia
Criadora do Projeto Histórias de Vida.
Arteterapeuta na Vila São Vicente de Paulo